quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A Relação no porcesso de aprendizagem

A influência do Ensinante na formação do Aprendente
Por
Emanuela Fernandes

Muitas vezes, dos professores que temos durante nossa vida escolar depende nosso futuro no que diz respeito inclusive à vocação profissional. Um professor pode fazer com que odiemos a matéria ou induzir o gosto por ela. Como a vê, como a planeja, como a desenvolve e como guia seus alunos nas tarefas. Se as aulas são chatas, repetitivas, os alunos acabam cansando. Por outro lado, aquele professor que durante suas aulas vai fazendo algo diferente, que tenta mudar o ritmo da aula dentro da sala, pode fazer com que a matéria mais pesada se converta na mais interessante, e assim conseguirá que os alunos a vejam de outro modo.
A figura do professor, mestre, educador, constituiu-se, ao logo dos tempos como a pessoa que é exemplo a seguir, a escutar, valorizar e a exigir. Os valores do docente têm uma influência definitiva na educação e na formação do homem e é pedra fundamental no progresso, estagnação ou retrocesso de muitas pessoas. Se ele de fato sente prazer naquilo que faz, encontrará máximo gozo em conseguir formar o homem, além de profissional, como pessoa. No desempenho de sua função, ele, assim como o artista, põe em jogo seu ser, utilizando-se de suas faculdades físicas, intelectuais e mentais e principalmente seu coração.
Ao focalizarmos a prática de um professor em sala de aula, vem-nos à memória os professores que já tivemos e a atuação de cada um deles. A alguns direcionamos fartos elogios; a outros, certas ressalvas. Percebemos que alguns delesparecem ter uma importância maior em nossa vida. Provavelmente estes são os que nos cativaram. Quem não se lembra de algum(a) professor(a) que muito amou e de outro(a) que se teve repulsa?? Sim, eles marcaram nossa vida! Lembro-me bem de um professor de matemática que tive na 6ª série. Nossa! Como nos sentíamos incapazes diante dele! Sempre fazia com que nos sentíssemos minúsculos, improdutivos, incapazes; chegando a nos chamar de “burros”. E a nossa auto-estima? Essa sim ia por água a baixo... Via nele o perfil de um profissional a que jamais se poderia ter como modelo e pensava: “quer ser um bom professor? Faça tudo diferente do que ele faz!” Em contrapartida, me vem a imagem da doce, meiga, carinhosa e competente (que tanto me fez chorar quando a tive que deixar) professora da 2ª série... Tudo era claro e limpo; os conteúdos fluíam, deslizavam e bailavam embalados por sua melodiosa voz. Com a sua imagem eu via a possibilidade de seguir adiante o papel que ela desempenhava, pois os conteúdos iam além da sala de aula; faziam sentido, chegavam ao nosso coração!
Mais tarde um professor de Português do Ensino Médio. Como não falar nele... Esse sim me influenciou profundamente! Imaginava-me ministrando aulas de português como ele fazia: onde objetos diretos não eram só complementos verbais, mas respostas aos anseios e curiosidades; onde sujeitos não eram apenas sujeitos das orações, mas da História; onde verbos eram ação, nossa ação frente ao mundo; onde os predicativos não eram somente dos sujeitos ou objetos, mas poderiam ser nossos também! Tudo tinha cor. E o tempo? Ah, esse era nosso algoz. O relógio era olhado não com a vontade de que a aula chegasse ao fim, mas com o desejo de que fosse eterno aquele encontro.
Mas afinal, qual a diferença entre eles? Por que uns ficam e outros não? Hoje vejo claramente que o objetivo desses professores que me marcaram positivamente era facilitar a aprendizagem, era usar a sua intervenção para que nós conseguíssemos alguma autonomia, ou seja, eles queriam que nós aprendêssemos com eles, sem eles, apesar deles.
O papel do professor na aprendizagem mudou. E muitos são os questionamentos a respeito desse papel. A sua influência ultrapassa os limites de formação acadêmica, pois ele consegue ir além do repassar conteúdos. Tenho a convicção de que o professor deixa marcas profundas e positivas em seus alunos, bem como negativas, sendo um modelo de profissional e de pessoa a ser venerado, imitado. E também esquecido e por que não rejeitado. Esse professor é alguém com alcance suficiente para fazer o aprendente
[1] refletir, rever seus conceitos e tomar decisões. Além disso, no contato diário com alunos, os professores se tornam fonte de experiência e opiniões a respeito de cursos, instituições de ensino, carreiras a seguir.
O bom relacionamento entre professor e aluno deve ser observado, mas nunca confundido com paternalismo. As palavras utilizadas durante as aulas não devem ter conotações que, de repente, desvalorizem e desmereçam sonhos e objetivos do aluno. Esses cuidados são importantes, pois da mesma forma em que podemos fazê-lo ir além também poderemos fazê-lo “matar” seus sonhos, destruir seus projetos. O sucesso de uma "boa aula" deve-se à flexibilidade do plano de aula do professor e às mediações planejadas conforme a realidade dos aprendentes.
Assistindo ao filme As Confissões de Schmidt podemos perceber que o protagonista se define como miserável, ordinário; alguém que jamais conseguiu influenciar alguém na vida. Diz ter uma vida normal, chata, infeliz. Com a morte de sua esposa certas perguntas incômodas começaram a aparecer. As respostas a essas perguntas também começam a surgir.... Assim ele adquire a consciência de que viveu uma vida infeliz e que ainda é infeliz e toma a decisão de não se resignar a isso. Até aquele momento se viu como alguém inerte, que não fazer diferença na vida de ninguém. Com a desculpa de evitar o casamento de sua filha, Warren pega sua caravana e sai em busca do objeto perdido, que é o encontro consigo mesmo, fazendo um do vivido e o sentido de sua vida. Busca seu passado, lugares que marcaram sua infância. Paralelamente, continua financiando a manutenção de uma criança africana chamada Ndugu que ele, depois de ver um comercial na televisão referente a uma associação que ajuda crianças africanas desamparadas, decide “adotá-lo”; mediante cheques dirigidos a uma companhia de ajuda assistencial. Junto a cada cheque lhe anexa uma carta com "seus desabafos” aquilo que sente no momento. Nessas cartas, Warren procura compartilhar com esse filho adotivo seus conflitos e histórias familiares, sentimentos de fúria e menosprezo para com seus seres queridos, suas queixas da esposa. O que Warren faz na verdade é como se fosse um diário íntimo escrito em parcelas; daí o título traduzido ao português como “As confissões de Schmidt” ou para o inglês “About Schmidt”. Através de um ato mínimo -aparentemente-: a ajuda monetária quase simbólica a essa criança da Tanzânia lhe dá sentido à vida. Quando ele observa no desenho feito pelo garoto: uma criança de mãos dadas com uma pessoa idosa, que sem duvida é ele mesmo, o Sr. Schmidt, ele percebe que provavelmente fez a diferença na vida de alguém.
Segundo Sara Paín (apud Fernández, 1991), “a função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter um efeito alienante ou libertador.” Podemos assim, estender à função do próprio educador, pois ele pode libertar ou alienar esse aprendente.
No livro A Inteligência Aprisionada, Fernández nos mostra o relato de uma criança de nove anos que diz que a professora pede gritando para que eles - os alunos- não gritem e que a cabo de dois anos ela se acostumou a gritar para que fosse atendida. Isso nos mostra mais uma vez o papel do educador no processo de formação do sujeito.
Para Fernández (1991), o educador deve sair do “lugar do saber” para que possa ser percebido como portador do conhecimento, e não o próprio conhecimento. Esse conceito de “sabe-tudo” vem mudando ao longo da história, passando daquele que professa uma crença, a um ser que é eterno aprendiz. O educador se vê como um indivíduo em contínua aprendizagem, mudando a relação que tem com o saber, já que a ação de ensinar e aprender são essenciais para o desenvolvimento e perpetuação da natureza humana.
No filme Escola da vida, o famoso Mr. D é adorado pelos alunos porque ele é atraente, simpático, informal e se aproxima bastante deles, fazendo-os ver que o momento é agora, que há pouco tempo para se fazer o que se tem a fazer. Suas aulas são atraentes, envolventes e bem contextualizadas. Mr. D chega inclusive a ser o treinador do time, que vinha de uma seqüência de derrotas. O que ele dizia aos alunos era que o importante era jogar e comemorar tudo, inclusive a derrota e os acertos alheios. Para ele o mais importante era ser. Os alunos o consagraram como professor do ano.
Saint-Exupéry nos faz ver que seu pequeno príncipe cativa a raposa, e que na hora de se despedir dela, ela lhe diz: “...você mecativou. Seu cabelo é louro. Os campos de trigo são dourados. Porque você me cativou sempre que o vento balançar as espigas douradas detrigo eu me lembrarei de você. E sorrirei...”. Mais uma vez podemos observar a influência de alguém que nos ensina algo. Esse algo não necessariamente é conteúdo formal, escolar, mas conteúdo de vida, como no caso da raposa que foi conquistada pelo Pequeno Príncipe. Na categoria afetiva foram enquadradas as referências que valorizavam a relação professor-aluno.Podemos incluir aí, então, os itens que se referem à amizade, companheirismo, respeito, entre as duas categorias envolvidas no processo de aprendizagem.
Segundo Paulo Freire (1967), “o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança”. O professor precisa dar, ao aluno, apoio moral e sentimentos de segurança e confiança, ou seja, estimular o auto-conceito.
A função dos professores é muito importante na sociedade, por que não dizer, nas comunidades humanas. Pois sua presença, colocando em marcha sua vocação, seus gostos, suas aptidões e toda sua pessoa, ajuda na educação e na formação do homem resultando na formação de sua personalidade integral.



Referências Bibliográficas

1. AS CONFISSÕES de Schmidt. Produção de Michael Besman e Harry Git. EUA:
New Line Cinema Distribuidora. DVD (124.min.): color.; son. Legendado.

2. ESCOLA da vida. Dirigido por William Dear. Canadá-EUA: California Home Video
Distribuidora, 2005. DVD ( 90 min.): son; color. Legendado.

3. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991.

4. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1967.

5. SAINT-EXUPÉRY. Antonie de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1998.


[1] Termo utilizado por Alicia Fernández quando quer falar daquele que aprende, independente do que aprende.