segunda-feira, 27 de outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Alanis Morissette

"You live you learn
You love you learn
You cry you learn
You lose you learn
You bleed you learn
You scream you learn
You grieve you learn
You choke you learn
You laugh you learn
You choose you learn
You pray you learn
You ask you learn
You live you learn "

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Inconsciente estruturado como Linguagem

O Inconsciente estruturado como Linguagem
Por
Emanuela Fernandes e Josy Sales Vieira

Propusemo-nos a trabalhar aqui os conceitos de Lacan no que diz respeito ao Inconsciente estruturado como linguagem. Para mim, quando falo em linguagem, logo me vem à mente o ilustre João Guimarães Rosa, com seu Sagarana e seu Grande Sertão: Veredas. Neles encontramos, pelo menos ao meu ver, a expressão máxima da linguagem. Ele realiza uma verdadeira recriação da linguagem, redimensionando o léxico e ultrapassando os limites do mero regionalismo. A linguagem rosiana é a um só tempo regional e universal, presente e atemporal, popular e erudita. A linguagem do sertanejo, do homem da terra, que expressa através de suas palavras tudo aquilo que sua alma está cheia.
Assim, no discurso cada palavra se encadeia à outra já que duas palavras não podem ser pronunciadas ao mesmo tempo; produzindo uma cadeia de palavras, uma cadeia de significados. Chamamos Sintagma estas combinações de palavras encadeadas na linearidade da fala. Aqui o valor de um termo está na oposição ao termo anterior, ao posterior ou aos dois.
A estrutura como a relação de elementos adquire sentido pela sua posição em relação a uma falta. Para a psicanálise essa falta é produzida pela castração, como manifestação da lei contra o incesto, entendendo a castração como a operação simbólica que produz a perda de um objeto imaginário.
Segundo F. de Saussure (apud LEITE(1992)), “a linguagem é um sistema histórico com os seus aspectos social e individual indissociáveis.” Nos propõe que tomemos a língua como uma parte essencial da linguagem. Apresenta a língua como uma totalidade e um princípio de classificação, passiva. Produto social da linguagem e conjunto de convenções acordadas socialmente que possibilita o uso individual, ou a sua execução que é a fala.” A fala, sendo individual, precisa, para exteriorizar um pensamento, o uso do código da língua e os mecanismos psicofísicos que a fazem possível, ativa. Há língua porque há sujeitos falantes. Saussure define o signo lingüístico como a associação psíquica de um conceito, que chamará significado, com uma imagem acústica, que chamará significante.
A palavra é, portanto, presença e ausência da coisa. Ela designa a coisa e a coloca em "em si", na sua ordem de realidade.
Lacan vem e inverte o que Saussure pensa sobre a linguagem, que se dava por essa relação entre o significado e o significante. Para ele, a supremacia é do significante, havendo assim não uma relação entre esses dois elementos mas sim uma cisão, um abismo; daí a idéia de relação, onde um significante faz relação com outro significante formando uma rede, como pensou também Foucault.
Nosso psiquismo possui três instâncias: o Imaginário, que se dá pela imagem, onde há o Eu, a identidade, marcando o desenho do ser, na relação euàoutro; o Simbólico, que é a linguagem, onde está o sujeito, que é dividido, não sendo somente do consciente, mas do consciente /inconsciente; e o Real, onde está o indizível, o enigma, podendo ser entendido como a pulsão de morte! O desejo do homem é o desejo do Outro. Há uma primazia do Imaginário sobre o Real na medida em que o eu se forma a partir do outro e que não existe nada preestabelecido nas funções do sujeito que seja anterior á sua formação a partir do Outro.
Lacan trabalhou também a idéia de tempo lógico. Para ele todo processo psíquico é tripartido, ou seja, possui três momentos. O primeiro é o Instante de ver, o segundo o Tempo de compreender e o terceiro o Momento de Concluir.
Assim, em seus estudos, Lacan dá um salto da matemática à lingüística. Dizendo, então, que o Outro é “o lugar do tesouro do significante, o que não quer dizer do código define o Outro como sendo, para o sujeito, “o lugar de onde pode ser colocado, para ele, a questão de sua existência”, isto é: de sua sexualidade e de seu desejo, de sua procriação e de sua filiação, de sua existência e de sua morte, do destino que terá sido o seu.
Lacan foi um grande intérprete da doutrina freudiana, fazendo sua leitura não para ultrapassá-la ou conservá-la, mas com o objetivo, ele mesmo confessou, de “retornar literalmente aos textos de Freud”.


LEITE, Márcio Peter de Souza. O inconsciente estruturado como Linguagem in: A negação da falta. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992.


A Relação no porcesso de aprendizagem

A influência do Ensinante na formação do Aprendente
Por
Emanuela Fernandes

Muitas vezes, dos professores que temos durante nossa vida escolar depende nosso futuro no que diz respeito inclusive à vocação profissional. Um professor pode fazer com que odiemos a matéria ou induzir o gosto por ela. Como a vê, como a planeja, como a desenvolve e como guia seus alunos nas tarefas. Se as aulas são chatas, repetitivas, os alunos acabam cansando. Por outro lado, aquele professor que durante suas aulas vai fazendo algo diferente, que tenta mudar o ritmo da aula dentro da sala, pode fazer com que a matéria mais pesada se converta na mais interessante, e assim conseguirá que os alunos a vejam de outro modo.
A figura do professor, mestre, educador, constituiu-se, ao logo dos tempos como a pessoa que é exemplo a seguir, a escutar, valorizar e a exigir. Os valores do docente têm uma influência definitiva na educação e na formação do homem e é pedra fundamental no progresso, estagnação ou retrocesso de muitas pessoas. Se ele de fato sente prazer naquilo que faz, encontrará máximo gozo em conseguir formar o homem, além de profissional, como pessoa. No desempenho de sua função, ele, assim como o artista, põe em jogo seu ser, utilizando-se de suas faculdades físicas, intelectuais e mentais e principalmente seu coração.
Ao focalizarmos a prática de um professor em sala de aula, vem-nos à memória os professores que já tivemos e a atuação de cada um deles. A alguns direcionamos fartos elogios; a outros, certas ressalvas. Percebemos que alguns delesparecem ter uma importância maior em nossa vida. Provavelmente estes são os que nos cativaram. Quem não se lembra de algum(a) professor(a) que muito amou e de outro(a) que se teve repulsa?? Sim, eles marcaram nossa vida! Lembro-me bem de um professor de matemática que tive na 6ª série. Nossa! Como nos sentíamos incapazes diante dele! Sempre fazia com que nos sentíssemos minúsculos, improdutivos, incapazes; chegando a nos chamar de “burros”. E a nossa auto-estima? Essa sim ia por água a baixo... Via nele o perfil de um profissional a que jamais se poderia ter como modelo e pensava: “quer ser um bom professor? Faça tudo diferente do que ele faz!” Em contrapartida, me vem a imagem da doce, meiga, carinhosa e competente (que tanto me fez chorar quando a tive que deixar) professora da 2ª série... Tudo era claro e limpo; os conteúdos fluíam, deslizavam e bailavam embalados por sua melodiosa voz. Com a sua imagem eu via a possibilidade de seguir adiante o papel que ela desempenhava, pois os conteúdos iam além da sala de aula; faziam sentido, chegavam ao nosso coração!
Mais tarde um professor de Português do Ensino Médio. Como não falar nele... Esse sim me influenciou profundamente! Imaginava-me ministrando aulas de português como ele fazia: onde objetos diretos não eram só complementos verbais, mas respostas aos anseios e curiosidades; onde sujeitos não eram apenas sujeitos das orações, mas da História; onde verbos eram ação, nossa ação frente ao mundo; onde os predicativos não eram somente dos sujeitos ou objetos, mas poderiam ser nossos também! Tudo tinha cor. E o tempo? Ah, esse era nosso algoz. O relógio era olhado não com a vontade de que a aula chegasse ao fim, mas com o desejo de que fosse eterno aquele encontro.
Mas afinal, qual a diferença entre eles? Por que uns ficam e outros não? Hoje vejo claramente que o objetivo desses professores que me marcaram positivamente era facilitar a aprendizagem, era usar a sua intervenção para que nós conseguíssemos alguma autonomia, ou seja, eles queriam que nós aprendêssemos com eles, sem eles, apesar deles.
O papel do professor na aprendizagem mudou. E muitos são os questionamentos a respeito desse papel. A sua influência ultrapassa os limites de formação acadêmica, pois ele consegue ir além do repassar conteúdos. Tenho a convicção de que o professor deixa marcas profundas e positivas em seus alunos, bem como negativas, sendo um modelo de profissional e de pessoa a ser venerado, imitado. E também esquecido e por que não rejeitado. Esse professor é alguém com alcance suficiente para fazer o aprendente
[1] refletir, rever seus conceitos e tomar decisões. Além disso, no contato diário com alunos, os professores se tornam fonte de experiência e opiniões a respeito de cursos, instituições de ensino, carreiras a seguir.
O bom relacionamento entre professor e aluno deve ser observado, mas nunca confundido com paternalismo. As palavras utilizadas durante as aulas não devem ter conotações que, de repente, desvalorizem e desmereçam sonhos e objetivos do aluno. Esses cuidados são importantes, pois da mesma forma em que podemos fazê-lo ir além também poderemos fazê-lo “matar” seus sonhos, destruir seus projetos. O sucesso de uma "boa aula" deve-se à flexibilidade do plano de aula do professor e às mediações planejadas conforme a realidade dos aprendentes.
Assistindo ao filme As Confissões de Schmidt podemos perceber que o protagonista se define como miserável, ordinário; alguém que jamais conseguiu influenciar alguém na vida. Diz ter uma vida normal, chata, infeliz. Com a morte de sua esposa certas perguntas incômodas começaram a aparecer. As respostas a essas perguntas também começam a surgir.... Assim ele adquire a consciência de que viveu uma vida infeliz e que ainda é infeliz e toma a decisão de não se resignar a isso. Até aquele momento se viu como alguém inerte, que não fazer diferença na vida de ninguém. Com a desculpa de evitar o casamento de sua filha, Warren pega sua caravana e sai em busca do objeto perdido, que é o encontro consigo mesmo, fazendo um do vivido e o sentido de sua vida. Busca seu passado, lugares que marcaram sua infância. Paralelamente, continua financiando a manutenção de uma criança africana chamada Ndugu que ele, depois de ver um comercial na televisão referente a uma associação que ajuda crianças africanas desamparadas, decide “adotá-lo”; mediante cheques dirigidos a uma companhia de ajuda assistencial. Junto a cada cheque lhe anexa uma carta com "seus desabafos” aquilo que sente no momento. Nessas cartas, Warren procura compartilhar com esse filho adotivo seus conflitos e histórias familiares, sentimentos de fúria e menosprezo para com seus seres queridos, suas queixas da esposa. O que Warren faz na verdade é como se fosse um diário íntimo escrito em parcelas; daí o título traduzido ao português como “As confissões de Schmidt” ou para o inglês “About Schmidt”. Através de um ato mínimo -aparentemente-: a ajuda monetária quase simbólica a essa criança da Tanzânia lhe dá sentido à vida. Quando ele observa no desenho feito pelo garoto: uma criança de mãos dadas com uma pessoa idosa, que sem duvida é ele mesmo, o Sr. Schmidt, ele percebe que provavelmente fez a diferença na vida de alguém.
Segundo Sara Paín (apud Fernández, 1991), “a função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter um efeito alienante ou libertador.” Podemos assim, estender à função do próprio educador, pois ele pode libertar ou alienar esse aprendente.
No livro A Inteligência Aprisionada, Fernández nos mostra o relato de uma criança de nove anos que diz que a professora pede gritando para que eles - os alunos- não gritem e que a cabo de dois anos ela se acostumou a gritar para que fosse atendida. Isso nos mostra mais uma vez o papel do educador no processo de formação do sujeito.
Para Fernández (1991), o educador deve sair do “lugar do saber” para que possa ser percebido como portador do conhecimento, e não o próprio conhecimento. Esse conceito de “sabe-tudo” vem mudando ao longo da história, passando daquele que professa uma crença, a um ser que é eterno aprendiz. O educador se vê como um indivíduo em contínua aprendizagem, mudando a relação que tem com o saber, já que a ação de ensinar e aprender são essenciais para o desenvolvimento e perpetuação da natureza humana.
No filme Escola da vida, o famoso Mr. D é adorado pelos alunos porque ele é atraente, simpático, informal e se aproxima bastante deles, fazendo-os ver que o momento é agora, que há pouco tempo para se fazer o que se tem a fazer. Suas aulas são atraentes, envolventes e bem contextualizadas. Mr. D chega inclusive a ser o treinador do time, que vinha de uma seqüência de derrotas. O que ele dizia aos alunos era que o importante era jogar e comemorar tudo, inclusive a derrota e os acertos alheios. Para ele o mais importante era ser. Os alunos o consagraram como professor do ano.
Saint-Exupéry nos faz ver que seu pequeno príncipe cativa a raposa, e que na hora de se despedir dela, ela lhe diz: “...você mecativou. Seu cabelo é louro. Os campos de trigo são dourados. Porque você me cativou sempre que o vento balançar as espigas douradas detrigo eu me lembrarei de você. E sorrirei...”. Mais uma vez podemos observar a influência de alguém que nos ensina algo. Esse algo não necessariamente é conteúdo formal, escolar, mas conteúdo de vida, como no caso da raposa que foi conquistada pelo Pequeno Príncipe. Na categoria afetiva foram enquadradas as referências que valorizavam a relação professor-aluno.Podemos incluir aí, então, os itens que se referem à amizade, companheirismo, respeito, entre as duas categorias envolvidas no processo de aprendizagem.
Segundo Paulo Freire (1967), “o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança”. O professor precisa dar, ao aluno, apoio moral e sentimentos de segurança e confiança, ou seja, estimular o auto-conceito.
A função dos professores é muito importante na sociedade, por que não dizer, nas comunidades humanas. Pois sua presença, colocando em marcha sua vocação, seus gostos, suas aptidões e toda sua pessoa, ajuda na educação e na formação do homem resultando na formação de sua personalidade integral.



Referências Bibliográficas

1. AS CONFISSÕES de Schmidt. Produção de Michael Besman e Harry Git. EUA:
New Line Cinema Distribuidora. DVD (124.min.): color.; son. Legendado.

2. ESCOLA da vida. Dirigido por William Dear. Canadá-EUA: California Home Video
Distribuidora, 2005. DVD ( 90 min.): son; color. Legendado.

3. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991.

4. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1967.

5. SAINT-EXUPÉRY. Antonie de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1998.


[1] Termo utilizado por Alicia Fernández quando quer falar daquele que aprende, independente do que aprende.

O BURACO, O DISCURSO E O GOZO

O BURACO, O DISCURSO E O GOZO

João Henrique Gondim


Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.
(SARAMAGO, 1995, p. 262)

E no começo era o buraco. Um buraco na lógica, no humano, em algum lugar. Um buraco raramente sabido (o saber é confrontado ante o buraco). Eventualmente desconfia-se de sua existência, usualmente tenta-se negá-lo. Algumas tentativas de nomeá-lo (o vazio, o impossível), como nomear o inominável ? Outros buscam supri-lo ou fazem vista grossa. Há os que visam tapar o buraco desesperadamente com o que primeiro lhe aparece pela frente, um Deus, drogas, um time de futebol etc. Quantas vezes um esportista ao ser questionado sobre o que significa seu esporte responde, por exemplo : “Aquilo é tudo para mim.” O sedutor discurso da plenitude, da suficiência, da totalidade, a “miragem do um”, está presente de modo corriqueiro na cultura sob as mais diferentes formas e tratamentos. Porém, apesar dos tapa-buracos, o buraco insiste.
“...não me compreendem, não sou a boca para esses ouvidos.
Será preciso, primeiro, partir-lhes as orelhas, para que aprendam a ouvir com os olhos? Será preciso retumbar como tambores e pregadores de sermões quaresmais? Ou acreditarão somente nos que gaguejam?
Possuem alguma coisa da qual se orgulham. Como chamam, mesmo , àquilo que os torna orgulhosos? Chamam-lhe instrução e é o que os distingue dos pastores de cabras.” (NIETZSCHE, 1988, p.33)
Mas que buraco é esse? De onde vem? O buraco é o legado da primeira e mais importante experiência de nossa vida. A primeira castração do homem, aquilo que lhe dá a condição de humano, a saber : O encontro do sujeito com a linguagem. Encontro este que o coloca no campo da representação, melhor dizendo, no campo da significação, o campo da linguagem; onde, a relação do homem com as coisas não é mais direta, é mediada. Mais ainda, algo se fez perdido desse encontro. O que ? Este momento anterior, onde ocorre a experiência direta de alguém (que não é sujeito) com algo que não é nomeável (a linguagem não se encontra disponível). Neste momento pré-humano, será o paraíso (perdido)? A morte? A pré-vida? Quem sabe?
A representação de uma coisa, já não é mais a “coisa”. Confundi-las remete-nos ao imaginário, dialetizá-las evoca o simbólico. Porém, o buraco insiste. A linguagem não se mostra suficiente para dar conta do significado último das coisas. Algo está perdido, escapa da linguagem.
A linguagem luta. Uma luta inglória, pois o vazio, o buraco, o espaço perdido entre a coisa e sua nomeação, é condição do humano. A linguagem luta, é representação de representação, é representação para outra representação, é nesse desapego à coisa, ao objeto, que de repente, já não é bem representação de coisa alguma que não da própria linguagem, circundando, fazendo borda ao vazio. Vazio este que dá trabalho, angústia, que é seu próprio combustível, fonte de alimentação.
Já estamos no campo do significante (simbólico), que não é outro que não o da própria linguagem, referenciado a um campo do vazio, do buraco (real). Como nomear o inominável ? Bem, através das bordas, por aproximações, utilizando o que, apesar das dificuldades e entraves, dispomos, que é a linguagem, via metáforas (umbigo do sonho, vazio, buraco, impossível) e conceitos ( Lacan utiliza a Letra), os nomes do real.
Da mesma forma que os variados discursos da plenitude se apresentam na cultura, o buraco deixa suas marcas. Basta ter olhos atentos para enxergar onde a “miopia” se faz hegemônica, ter ouvido para escutar onde “canta o galo”, em agravo aos que fazem ouvido de mercador. Tirando algumas incursões de poucos filósofos, apenas a psicanálise e a arte tem se dado ao trabalho de encarar com a importância que merecem as questões suscitadas pelo buraco.
“... de onde se interroga a verdade ? Pois a verdade ela pode dizer tudo que ela quer. É o oráculo. ... como entrando no cômodo num estalido de espelho, isto teria talvez podido lhes abrir as orelhas.
Oponho,..., verdade e saber. ... Saber em fracasso, eis aí onde a psicanálise se mostra melhor. Saber em fracasso como se diz figura em abismo, isso não quer dizer fracasso do saber.”(LACAN,1971, p.66,67,112)
“...toda a verdade, é o que não se pode dizer. É o que só se pode dizer com a condição de não levá-la até o fim, de só se fazer semi-dizê-la.”(LACAN,1985, p.124)
Para os que ainda não deram o real valor ao buraco, para os que o imaginam como, quando muito, um pequenino buraco que de vez em quando atrapalha um pouco, para o adeptos do discurso da suficiência, do logos, do semblante, recorro a uma brilhante metáfora de Nietzsche, um filósofo, onde este apresenta sua concepção de homem.
“O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem - uma corda sobre um abismo.”(NIETZSCHE, 1988, p.31)
É um buraco do tamanho de um abismo que a sutileza nietzscheana evoca, e nos ajuda a ilustrar a tarefa natimorta dos que tentam tapá-lo com uma “pá de areia”, que o vento, sem muito trabalho, dá o destino merecido: pó disperso. Embora o pó, assim como um discurso, produza consequências.
As palavras, as metáforas (com força de “dinamite”) de Nietzsche, permitem uma série de aproximações (no que seus principais conceitos se referem, e, não, no desenvolvimento dado a estes) ou usos ao discurso psicanalítico. Não se trata de colocar Nietzsche como um precursor da psicanálise, ele era um filósofo, mas fornece interessantes “munições” para a psicanálise.
É sem cerimônia que a psicanálise utiliza os significantes sejam de um texto filosófico, sejam da literatura, da pintura, da música, etc., para ilustrar as suas próprias articulações, como hoje em dia um músico “rapper” ou “tecno” utiliza o “sampler” para reenviar um trecho de uma música anterior para uma nova música num outro contexto. Não se trata de “psicanalisar” um texto literário, uma letra de música, ou de tentar supor alguém como um precursor da psicanálise ou equivalente. A psicanálise com suas próprias ferramentas vai ao mundo buscar elementos para trabalhar, pois o inconsciente, o real, a letra, a escrita, deixam marcas, rastro, deixam sua assinatura onde quer que o humano se apresente.
O homem enquanto corda, ponte sobre um abismo. O homem não somente como corda, ponte, mas a metáfora com todos seus elementos; ou seja, além/aquém (a psicanálise não dá um sentido, meta ou forma para o homem) mas referenciado ao animal/instinto, e, também, além/aquém mas referenciado ao super-homem/falo. O homem não somente como instinto, falo, mas a eles se refere, se posiciona. Há também o abismo/buraco/vazio/real que apesar das aparências, sustenta, suporta, referencia o tensionamento, a tecitura, a forma desta corda/ponte/linguagem/semblante. Uma corda sobre um abismo; a corda, acordo, que quando falha cai no abismo, “cai na real”.
E o gozo? Temos o gozo fálico. Para o homem e para a mulher, numa perspectiva imaginária, o gozo de quem “tem” a “força”, o “poder”. Na verdade, a ilusão de deter o falo, de não se submeter a castração. O gozo que busca satisfazer a demanda de um discurso da plenitude, da totalidade, da completude, a “miragem do um”. Este discurso se apresenta de modo hegemônico na cultura. Basta ligar um televisor para se deparar com ele facilmente, dado a abundância com que é recorrente, seja na publicidade, esporte, cinema etc.
A ciência também se deixa seduzir pelo “canto de sereia” do gozo fálico; como, por exemplo, no campo jurídico, onde se pressupõe a “plenitude lógica do ordenamento jurídico”, ou seja, mesmo que determinado fato não seja previsto expressamente por uma lei, o Juiz de Direito utilizará de outras fontes da norma jurídica, como o costume, a jurisprudência dos tribunais, a doutrina e os princípios gerais do direito, para dar sua prestação juridicional. No entanto, conforme adverte Vasconcelos : ”A contradição se instala quando os reiterados propósitos de pureza científica se chocam com a manifesta admissão de elementos extra-jurídicos, estes impostos pela inarredável necessidade de apoiar as fontes jurídicas, de fundamentá-las e de legitimá-las”.(VASCONCELOS, 1978, p.238) Ele acrescenta ainda: ”Já advertia Cícero que, para explicar a natureza do direito, tornava-se imprescindível, antes, conhecer a natureza do homem. A impureza das ciências humanas decorre do simples fato de ser o homem, seu autor e objeto, um ente impuro, ou melhor, incompleto”. (VASCONCELOS, 1978, p.238)
O gozo fálico, então, é o gozo da linguagem, do que vem no lugar do buraco, mesmo que provisoriamente, alienadamente, imaginariamente. Inúmeros são os exemplos deste exercício de “obturação do real”, porém, o buraco insiste.
“... o de que se trata é de o amor ser impossível, e a relação sexual se abismar no não-senso...”(LACAN, 1985, p.117-118)
Diante dessa insistência do buraco, para uma melhor articulação com o desejo, o qual, sem dúvida, é faltoso e não pleno, Lacan introduz o conceito de gozo do Outro.
Lacan fala que a mulher experimenta um outro gozo, além do gozo fálico. Um gozo a mais, suplementar, sobre o qual ela provavelmente nada sabe, a não ser que, quando ocorre, ela o experimenta. Freud já levantava a questão: O que quer uma mulher ? Ela ou quem quer que se situe nesta posição feminina, afinal, nos diz Lacan : “A todo ser falante ... é permitido ... inscrever-se nesta parte.”(LACAN, 1985, p.107)
O gozo fálico, gozo da linguagem. Já o gozo do Outro, gozo do corpo, para além do falo; gozo feminino, místico, um gozo onde o saber e a fala fracassam.
“Aí há um furo, e esse furo se chama o Outro ... o Outro enquanto lugar onde a fala, por ser deposta ... funda a verdade.” (LACAN, 1985, p.155)
O Outro (grande Outro) que dá nome ao gozo, fornecedor de significantes, também é faltoso. O buraco do Outro. Não são dos significantes do Outro que se goza, como no gozo fálico. É da falta no Outro, o buraco, o impossível, o real. Retomando a questão, como nomear o inominável ? Como saber, falar do gozo do impossível ? Saber, não se sabe. Falar, tenta-se. Experimenta-se, gozando em letras.
A lógica da psicanálise fundamenta-se não apenas na divisão do sujeito, mas também na marca, rastro, na assinatura da escrita do inconsciente, cuja letra faz borda e suporte deste vazio/buraco/abismo que rompe com as construções do semblante, redimensionando o lugar da verdade para o sujeito.
Diante disto, o analista, ao ocupar seu lugar, não pode furtar-se a sustentar um discurso que não seja do semblante. O discurso que conta com o buraco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
2. NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra Um livro para todos e para ninguém, São Paulo, Círculo do Livro S. A. ,1988.
3. LACAN, J. De um discurso que não seria do semblante. Seminário inédito, 1971.
4. LACAN,J. O Seminário: Livro 20: mais, ainda , Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1985, pag.124.
5. VASCONCELOS,A. Teoria da norma jurídica, Rio de Janeiro, Forense, 1978.


e-mail:
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domingo, 21 de setembro de 2008

Literatura




(...) Assim são as páginas da vida, como dizia meu filho quando fazia versos, e acrescentava que as páginas vão passando umas sobre as outras, esquecidas apenas lidas."Suje-se Gordo!"



Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis.


Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.


Publica, nesse ano, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira. Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).


Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."



Poema


Poema


Poema


Clarice


Clarice


Poema




BELO BELO






Belo belo minha bela


Tenho tudo que não quero


Não tenho nada que quero


Não quero óculos nem tosse


Nem obrigação de voto


Quero quero


Quero a solidão dos píncaros


A água da fonte escondida


A rosa que floresceu


Sobre a escarpa inacessível


A luz da primeira estrela


Piscando no lusco-fusco


Quero quero


Quero dar a volta ao mundo


Só num navio de vela


Quero rever Pernambuco


Quero ver Bagdá e Cusco


Quero quero


Quero o moreno de Estela


Quero a brancura de Elisa


Quero a saliva de Bela


Quero as sardas de Adalgisa


Quero quero tanta coisa


Belo beloMas basta de lero-lero


Vida noves fora zero.




MANUEL BANDEIRAPetrópolis, fevereiro de 1947

sábado, 20 de setembro de 2008

Relação no porcesso de aprendizagem

A influência do Ensinante na formação do Aprendente
Por
Emanuela Fernandes



Muitas vezes, dos professores que temos durante nossa vida escolar depende nosso futuro no que diz respeito inclusive à vocação profissional. Um professor pode fazer com que odiemos a matéria ou induzir o gosto por ela. Como a vê, como a planeja, como a desenvolve e como guia seus alunos nas tarefas. Se as aulas são chatas, repetitivas, os alunos acabam cansando. Por outro lado, aquele professor que durante suas aulas vai fazendo algo diferente, que tenta mudar o ritmo da aula dentro da sala, pode fazer com que a matéria mais pesada se converta na mais interessante, e assim conseguirá que os alunos a vejam de outro modo.
A figura do professor, mestre, educador, constituiu-se, ao logo dos tempos como a pessoa que é exemplo a seguir, a escutar, valorizar e a exigir. Os valores do docente têm uma influência definitiva na educação e na formação do homem e é pedra fundamental no progresso, estagnação ou retrocesso de muitas pessoas. Se ele de fato sente prazer naquilo que faz, encontrará máximo gozo em conseguir formar o homem, além de profissional, como pessoa. No desempenho de sua função, ele, assim como o artista, põe em jogo seu ser, utilizando-se de suas faculdades físicas, intelectuais e mentais e principalmente seu coração.
Ao focalizarmos a prática de um professor em sala de aula, vem-nos à memória os professores que já tivemos e a atuação de cada um deles. A alguns direcionamos fartos elogios; a outros, certas ressalvas. Percebemos que alguns delesparecem ter uma importância maior em nossa vida. Provavelmente estes são os que nos cativaram. Quem não se lembra de algum(a) professor(a) que muito amou e de outro(a) que se teve repulsa?? Sim, eles marcaram nossa vida! Lembro-me bem de um professor de matemática que tive na 6ª série. Nossa! Como nos sentíamos incapazes diante dele! Sempre fazia com que nos sentíssemos minúsculos, improdutivos, incapazes; chegando a nos chamar de “burros”. E a nossa auto-estima? Essa sim ia por água a baixo... Via nele o perfil de um profissional a que jamais se poderia ter como modelo e pensava: “quer ser um bom professor? Faça tudo diferente do que ele faz!” Em contrapartida, me vem a imagem da doce, meiga, carinhosa e competente (que tanto me fez chorar quando a tive que deixar) professora da 2ª série... Tudo era claro e limpo; os conteúdos fluíam, deslizavam e bailavam embalados por sua melodiosa voz. Com a sua imagem eu via a possibilidade de seguir adiante o papel que ela desempenhava, pois os conteúdos iam além da sala de aula; faziam sentido, chegavam ao nosso coração!
Mais tarde um professor de Português do Ensino Médio. Como não falar nele... Esse sim me influenciou profundamente! Imaginava-me ministrando aulas de português como ele fazia: onde objetos diretos não eram só complementos verbais, mas respostas aos anseios e curiosidades; onde sujeitos não eram apenas sujeitos das orações, mas da História; onde verbos eram ação, nossa ação frente ao mundo; onde os predicativos não eram somente dos sujeitos ou objetos, mas poderiam ser nossos também! Tudo tinha cor. E o tempo? Ah, esse era nosso algoz. O relógio era olhado não com a vontade de que a aula chegasse ao fim, mas com o desejo de que fosse eterno aquele encontro.
Mas afinal, qual a diferença entre eles? Por que uns ficam e outros não? Hoje vejo claramente que o objetivo desses professores que me marcaram positivamente era facilitar a aprendizagem, era usar a sua intervenção para que nós conseguíssemos alguma autonomia, ou seja, eles queriam que nós aprendêssemos com eles, sem eles, apesar deles.
O papel do professor na aprendizagem mudou. E muitos são os questionamentos a respeito desse papel. A sua influência ultrapassa os limites de formação acadêmica, pois ele consegue ir além do repassar conteúdos. Tenho a convicção de que o professor deixa marcas profundas e positivas em seus alunos, bem como negativas, sendo um modelo de profissional e de pessoa a ser venerado, imitado. E também esquecido e por que não rejeitado. Esse professor é alguém com alcance suficiente para fazer o aprendente[1] refletir, rever seus conceitos e tomar decisões. Além disso, no contato diário com alunos, os professores se tornam fonte de experiência e opiniões a respeito de cursos, instituições de ensino, carreiras a seguir.
O bom relacionamento entre professor e aluno deve ser observado, mas nunca confundido com paternalismo. As palavras utilizadas durante as aulas não devem ter conotações que, de repente, desvalorizem e desmereçam sonhos e objetivos do aluno. Esses cuidados são importantes, pois da mesma forma em que podemos fazê-lo ir além também poderemos fazê-lo “matar” seus sonhos, destruir seus projetos. O sucesso de uma "boa aula" deve-se à flexibilidade do plano de aula do professor e às mediações planejadas conforme a realidade dos aprendentes.
Assistindo ao filme As Confissões de Schmidt podemos perceber que o protagonista se define como miserável, ordinário; alguém que jamais conseguiu influenciar alguém na vida. Diz ter uma vida normal, chata, infeliz. Com a morte de sua esposa certas perguntas incômodas começaram a aparecer. As respostas a essas perguntas também começam a surgir.... Assim ele adquire a consciência de que viveu uma vida infeliz e que ainda é infeliz e toma a decisão de não se resignar a isso. Até aquele momento se viu como alguém inerte, que não fazer diferença na vida de ninguém. Com a desculpa de evitar o casamento de sua filha, Warren pega sua caravana e sai em busca do objeto perdido, que é o encontro consigo mesmo, fazendo um do vivido e o sentido de sua vida. Busca seu passado, lugares que marcaram sua infância. Paralelamente, continua financiando a manutenção de uma criança africana chamada Ndugu que ele, depois de ver um comercial na televisão referente a uma associação que ajuda crianças africanas desamparadas, decide “adotá-lo”; mediante cheques dirigidos a uma companhia de ajuda assistencial. Junto a cada cheque lhe anexa uma carta com "seus desabafos” aquilo que sente no momento. Nessas cartas, Warren procura compartilhar com esse filho adotivo seus conflitos e histórias familiares, sentimentos de fúria e menosprezo para com seus seres queridos, suas queixas da esposa. O que Warren faz na verdade é como se fosse um diário íntimo escrito em parcelas; daí o título traduzido ao português como “As confissões de Schmidt” ou para o inglês “About Schmidt”. Através de um ato mínimo -aparentemente-: a ajuda monetária quase simbólica a essa criança da Tanzânia lhe dá sentido à vida. Quando ele observa no desenho feito pelo garoto: uma criança de mãos dadas com uma pessoa idosa, que sem duvida é ele mesmo, o Sr. Schmidt, ele percebe que provavelmente fez a diferença na vida de alguém.
Segundo Sara Paín (apud Fernández, 1991), “a função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter um efeito alienante ou libertador.” Podemos assim, estender à função do próprio educador, pois ele pode libertar ou alienar esse aprendente.
No livro A Inteligência Aprisionada, Fernández nos mostra o relato de uma criança de nove anos que diz que a professora pede gritando para que eles - os alunos- não gritem e que a cabo de dois anos ela se acostumou a gritar para que fosse atendida. Isso nos mostra mais uma vez o papel do educador no processo de formação do sujeito.
Para Fernández (1991), o educador deve sair do “lugar do saber” para que possa ser percebido como portador do conhecimento, e não o próprio conhecimento. Esse conceito de “sabe-tudo” vem mudando ao longo da história, passando daquele que professa uma crença, a um ser que é eterno aprendiz. O educador se vê como um indivíduo em contínua aprendizagem, mudando a relação que tem com o saber, já que a ação de ensinar e aprender são essenciais para o desenvolvimento e perpetuação da natureza humana.
No filme Escola da vida, o famoso Mr. D é adorado pelos alunos porque ele é atraente, simpático, informal e se aproxima bastante deles, fazendo-os ver que o momento é agora, que há pouco tempo para se fazer o que se tem a fazer. Suas aulas são atraentes, envolventes e bem contextualizadas. Mr. D chega inclusive a ser o treinador do time, que vinha de uma seqüência de derrotas. O que ele dizia aos alunos era que o importante era jogar e comemorar tudo, inclusive a derrota e os acertos alheios. Para ele o mais importante era ser. Os alunos o consagraram como professor do ano.
Saint-Exupéry nos faz ver que seu pequeno príncipe cativa a raposa, e que na hora de se despedir dela, ela lhe diz: “...você mecativou. Seu cabelo é louro. Os campos de trigo são dourados. Porque você me cativou sempre que o vento balançar as espigas douradas detrigo eu me lembrarei de você. E sorrirei...”. Mais uma vez podemos observar a influência de alguém que nos ensina algo. Esse algo não necessariamente é conteúdo formal, escolar, mas conteúdo de vida, como no caso da raposa que foi conquistada pelo Pequeno Príncipe. Na categoria afetiva foram enquadradas as referências que valorizavam a relação professor-aluno.Podemos incluir aí, então, os itens que se referem à amizade, companheirismo, respeito, entre as duas categorias envolvidas no processo de aprendizagem.
Segundo Paulo Freire (1967), “o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança”. O professor precisa dar, ao aluno, apoio moral e sentimentos de segurança e confiança, ou seja, estimular o auto-conceito.
A função dos professores é muito importante na sociedade, por que não dizer, nas comunidades humanas. Pois sua presença, colocando em marcha sua vocação, seus gostos, suas aptidões e toda sua pessoa, ajuda na educação e na formação do homem resultando na formação de sua personalidade integral.


Referências Bibliográficas

1. AS CONFISSÕES de Schmidt. Produção de Michael Besman e Harry Git. EUA:
New Line Cinema Distribuidora. DVD (124.min.): color.; son. Legendado.

2. ESCOLA da vida. Dirigido por William Dear. Canadá-EUA: California Home Video
Distribuidora, 2005. DVD ( 90 min.): son; color. Legendado.

3. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991.

4. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1967.

5. SAINT-EXUPÉRY. Antonie de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1998.


[1] Termo utilizado por Alicia Fernández quando quer falar daquele que aprende, independente do que aprende.

A negação da falta

O Inconsciente estruturado como Linguagem in: A negação da falta.
Por
Emanuela Fernandes e Josy Sales Vieira


Propusemo-nos a trabalhar aqui os conceitos de Lacan no que diz respeito ao Inconsciente estruturado como linguagem. Para mim, quando falo em linguagem, logo me vem à mente o ilustre João Guimarães Rosa, com seu Sagarana e seu Grande Sertão: Veredas. Neles encontramos, pelo menos ao meu ver, a expressão máxima da linguagem. Ele realiza uma verdadeira recriação da linguagem, redimensionando o léxico e ultrapassando os limites do mero regionalismo. A linguagem rosiana é a um só tempo regional e universal, presente e atemporal, popular e erudita. A linguagem do sertanejo, do homem da terra, que expressa através de suas palavras tudo aquilo que sua alma está cheia.
Assim, no discurso cada palavra se encadeia à outra já que duas palavras não podem ser pronunciadas ao mesmo tempo; produzindo uma cadeia de palavras, uma cadeia de significados. Chamamos Sintagma estas combinações de palavras encadeadas na linearidade da fala. Aqui o valor de um termo está na oposição ao termo anterior, ao posterior ou aos dois.
A estrutura como a relação de elementos adquire sentido pela sua posição em relação a uma falta. Para a psicanálise essa falta é produzida pela castração, como manifestação da lei contra o incesto, entendendo a castração como a operação simbólica que produz a perda de um objeto imaginário.
Segundo F. de Saussure (apud LEITE(1992)), “a linguagem é um sistema histórico com os seus aspectos social e individual indissociáveis.” Nos propõe que tomemos a língua como uma parte essencial da linguagem. Apresenta a língua como uma totalidade e um princípio de classificação, passiva. Produto social da linguagem e conjunto de convenções acordadas socialmente que possibilita o uso individual, ou a sua execução que é a fala.” A fala, sendo individual, precisa, para exteriorizar um pensamento, o uso do código da língua e os mecanismos psicofísicos que a fazem possível, ativa. Há língua porque há sujeitos falantes. Saussure define o signo lingüístico como a associação psíquica de um conceito, que chamará significado, com uma imagem acústica, que chamará significante.
A palavra é, portanto, presença e ausência da coisa. Ela designa a coisa e a coloca em "em si", na sua ordem de realidade.
Lacan vem e inverte o que Saussure pensa sobre a linguagem, que se dava por essa relação entre o significado e o significante. Para ele, a supremacia é do significante, havendo assim não uma relação entre esses dois elementos mas sim uma cisão, um abismo; daí a idéia de relação, onde um significante faz relação com outro significante formando uma rede, como pensou também Foucault.
Nosso psiquismo possui três instâncias: o Imaginário, que se dá pela imagem, onde há o Eu, a identidade, marcando o desenho do ser, na relação euàoutro; o Simbólico, que é a linguagem, onde está o sujeito, que é dividido, não sendo somente do consciente, mas do consciente /inconsciente; e o Real, onde está o indizível, o enigma, podendo ser entendido como a pulsão de morte! O desejo do homem é o desejo do Outro. Há uma primazia do Imaginário sobre o Real na medida em que o eu se forma a partir do outro e que não existe nada preestabelecido nas funções do sujeito que seja anterior á sua formação a partir do Outro.
Lacan trabalhou também a idéia de tempo lógico. Para ele todo processo psíquico é tripartido, ou seja, possui três momentos. O primeiro é o Instante de ver, o segundo o Tempo de compreender e o terceiro o Momento de Concluir.
Assim, em seus estudos, Lacan dá um salto da matemática à lingüística. Dizendo, então, que o Outro é “o lugar do tesouro do significante, o que não quer dizer do código define o Outro como sendo, para o sujeito, “o lugar de onde pode ser colocado, para ele, a questão de sua existência”, isto é: de sua sexualidade e de seu desejo, de sua procriação e de sua filiação, de sua existência e de sua morte, do destino que terá sido o seu.
Lacan foi um grande intérprete da doutrina freudiana, fazendo sua leitura não para ultrapassá-la ou conservá-la, mas com o objetivo, ele mesmo confessou, de “retornar literalmente aos textos de Freud”.


LEITE, Márcio Peter de Souza. O inconsciente estruturado como Linguagem in: A negação da falta. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992.

Viver...


"Mas há a vidaque é para serintensamente vivida,há o amor.Que tem que ser vividoaté a última gota. Sem nenhum medo. Não mata. "

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Construtivismo

O Construtivismo
Por
Emanuela Fernandes


“O construtivismo é uma teoria do conhecimento que engloba numa só estrutura dois elementos: o sujeito histórico e o objeto cultural, em interação recíproca”. Essa é a definição que mais encontramos por aí. Parece-me que ela consegue, de maneira breve, nos dar a idéia geral do tema. Partindo dela, podemos perceber que o processo de aprendizagem se dá de maneira contínua, onde devemos ter em mente que nada está pronto, mas que tudo é construído a partir das relações do sujeito com o meio fisco e social a qual ele está inserido. E ainda que ultrapassa as fronteiras do universo escolar.
Um sujeito importante nesse processo é o professor, que acredito que poderia ser chamado de orientador ou até meso facilitador. Não temos com ele, portanto, um método, mas uma postura pedagógica. Uma postura porque o professor pode assumir ou desempenhar alguns papéis no processo ensino-aprendizagem propostos pela teoria.
O primeiro papel é o chamado político-construtivista, em que temos um professor político, uma vez que a proposta é de um movimento comprometido com a mudança, com o compromisso social, fruto de sua visão transformista da realidade, na tentativa de formação do sujeito. Sua primordial função, creio eu, é democratizar o saber, tornando-o acessível a todos, independente de sua classe social. E um professor construtivista, com visão integracionista, que irá promover a interação entre aluno e objeto. Todo o seu trabalho deve estar voltado a proporcionar essa relação, pois sem ela nada de significativo acontecerá.
Longe de toda a idéia de que o processo de aprendizagem se dá por uma relação de estímulo-resposta (S-R), essa teoria busca não ser autoritária, não empurrar os conhecimentos “garganta a baixo” ou pensar em simples estimulação, mas sim parte do princípio de que o aluno, que poderíamos chamar de aprendente
[1], constrói seu conhecimento antes, durante e depois da instituição a qual está inserido.
Diferente do que um dia se pensou, essa teoria não é espontaneísta, tampouco deixa o aprendente totalmente livre ou ‘abandonado’, mas somente livre de todo a ‘opressão’, fazendo com que ele seja encorajado a buscar o conhecimento através de atividades desafiadoras que lhe causem desequilíbrio, para que ele possa acomodá-los e assim consolidá-los.
O segundo papel é o do professor-mediador, onde temos aquele que entende a mediação como um elo entre o sujeito e o objeto a conhecer. Mas como funciona essa mediação? É uma mediação embasada no respeito, no não-autoritarismo, não-imposição de conteúdos no formato tipicamente “bancário”
[2], onde o aprendente é apenas ouvinte e depósito de conhecimentos. Essa mediação é, portanto, um catalisador, que promove a reação, acolhendo as experiências do aprendente e colocando ordem nos elementos que ele traz e que deverão ser refletidos por ele.
Fazer com que o sujeito construa seu conhecimento é a função mais nobre e gratificante da profissão de professor. É gratificante ver o sujeito caminhando com ‘suas próprias pernas’, agente e não paciente de sua própria vida.
Se a proposta parece ser a de um processo mais livre, espontâneo e encorajador, onde entra a questão do erro? Talvez cheguemos a pensar que esses erros não são corrigidos, que são deixados de lado ou que tudo é permitido. Nada disso!! A correção existe, mas de maneira diferente, pois o erro já não é encarado como algo terrível ou algo que vai macular o sujeito, mas sim como algo que poderá ser utilizado de maneira proveitosa, a serviço da aprendizagem, já que funciona como sinalizador. Está claro que aprendemos com os erros e que os eles nos ajudam a construir nossos comportamentos; são parte de nossa experiência, como diz Rubem Alves (apud Feitosa, 2008),e imprescindíveis no processo. É assim um trampolim no percurso da aprendizagem e não um obstáculo ou um pecado.
O que me parece interessante na teoria é fato de ela “procurar formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio pensamento” (Escola,sd). Tudo isso é conseguido através de uma mediação que provoca o sujeito e o leva o a suas zonas críticas, ajudando-lhe a refletir seu processo de aprendizagem.




Referências Bibliográficas

1- FEITOSA, Aécio. Desenvolvimento cognitivo. Apostila do Curso de
Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica, 2008.
2- FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artmed,
1991.
3- FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro:
Editora Paz e Terra, 1967.
4- NOVA Escola. O tira-teima do Construtivismo: grandes e pequenas dúvidas
esclarecidas. Revista, sd.




[1] Termo utilizado por Alicia Fernández em seu livro A inteligência Aprisionada.
[2] Termo utilizado por Paulo Freire.

Não quero....

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada".
Clarice Lispector