quinta-feira, 30 de julho de 2009

Medicina moderna X Biomedicina e a constituição da subjetividade

O deslocamento entre a medicina moderna e a biomedicina no que diz repeito ao corpo e a constituição da identidade pessoal segundo Pinheiro (2006)
por

Emanuela Fernandes

O lugar central do corpo do domínio médico possibilita uma relação do sujeito consigo mesmo. A formação de sua identidade se caracteriza por essas circunstâncias aos limites da corporeidade; que é algo datado da Modernidade. O que se tem com ela é uma realidade mutante e é com ela que se inaugura uma forma de ser subjetivo; como algo que diz respeito à individualidade corporal (antes se pensava a doença na natureza!). Agora se tem um novo campo de experiência, que é a experiência subjetiva na qual a identidade pessoal está intrinsecamente ligada ao corpo e que é entendido a partir da relação de vida e morte, de finitude. Tem-se, portanto, o corpo tornado doente, rompendo com o dualismo, engendrando uma ideia enraizada na existência corporal, nas sensações, nas vivências, etc. Daí afirmar-se que " a identidade está circunscrita aos limites corporais, não sendo possível extrapolá-los".

A contemporaneidade, a era da biomedicina demarca a oposição entre o indivíduo e o geral e o universal. Situa o indivíduo infinito, constitui o objeto dos discursos clínicos característicos da medicina anatômica. Isso indica mudança de paradigmas no que diz respeito à corporeidade, deixando de ser referido à finitude, constituindo-se assim, na matéria-prima da normalidade biológica. Isso implica a "desencarnação", como diz a autora, da subjetividade, perdendo a referência temporal e espacial. Agora temos a medicina do "devir humano".

Vendo o filme Gattaca, podemos perceber que o que se pretende é programar sequências genéticas, combinar genes, recombiná-los. Há, portanto, uma leitura genética codificada, uma biodiversidade, que vai além, buscando fazer com que a doença não se atualize, buscando extirpar do seio da sociedade a doença. Com essas práticas, a dependência entre identidade, individualidade e corpo se perdem. Para isso basta ver o que se propõe no filme Minority Report: a nova lei, em que o sujeito é invadido em sua individualidade, subjetividade em nome da Norma, da lei, já que o normal é não matar e assim evitar que se mate.

Essa programação independe do organismo!



Fortaleza, maio de 2009.

Canguilhem e o Normal e o Patológico

A Heterogeneidade e a Continuidade entre saúde e doença, normal e patológico segundo Canguilhem
por
Emanuela Fernandes

Segundo Canguilhem, houve duas maneiras de se pensar o normal e o patológico, a saúde e a doença. Uma partia do princípio de que havia uma heterogeneidade entre esses conceitos, onde doença e saúde eram duas coisas separadas e independentes. Outra pensava esses conceitos como homogêneos e, portanto davam uma ideia de continuidade; agora o que se tem já não era visão qualitativa; ou se era doente ou são, onde encontraríamos oscilações para mais ou para menos. O ser doente não é um ser anormal, é um ser que vivencia uma doença, é viver uma vida diferente. Com isso ele se refere ao conceito qualitativo, estético e moral. O que se pretende é dominar a doença e isso implica em conhecer suas relações com o estado nrmal que se pode restaurar, já que se ama a vida.

Com Morgagni, temos a decomposição anatômica e isso possibilita uma relação entre normal e patológico; onde os fenômenos patológicos são nada mais que variações quantitativas para mais ou para menos e isso na tentativa de anular o patológico.

Com Comte se busca estabelecer as leis do normal e com Bernard, precisar a identidade numa interpretação quantitativa e numérica. A doença é uma experimentação instituída pela própria natureza em circunstâncias bem determinadas buscando atingir o inacessível.

O conceito de normal e patológico visado anteriormente era um julgamento de valor e não uma realidade, ou seja, doente ou não. Entre eles não há diferença entre quantidades que não podem ser traduzidas apenas em diferenças quantitativas. Não é um simples prolongamento quantitativo variado. Com isso, o objetivo é criticar o positivismo, isto é, a separação corpo/doença. Propõe o conceito de alteração que é vinculada à noção de continuidade, de homogeneidade. Apoiado em Bernard, criticou o conceito de média. Pensando dessa forma, se pergunta pelo ser da doença para poder localizar e agir.

Pensando na heterogeneidade, caímos em uma questão normativa, estabelecida; ou se é doente ou não, criando-se uma norma! Já a homogeneidade, pensada como algo contínuo vai além de quantidades, em que a média é discutida no que diz respeito a ser mediano. A discussão é: existe alguém que se encaixe na média? Está claro que ela existe, mas não deve constituir a norma, mas a norma é que deveria ser pensada a partir dela.


Fortaleza, maio de 2009.