sábado, 9 de maio de 2009

Fenomenlogia


O que é a Psicopatologia Crítica?

A psicopatologia crítica não tem como objetivo ser um enfoque ou uma disciplina, muito menos ela se alia a uma determinada abordagem, mas sim ela se refere a uma perspectiva a ser tomada em qualquer perspectiva de estudo da psicopatologia e suas manifestações. O que ela vem colocar em cheque é uma epistemologia individualista que perpassa todas as abordagens da psicopatologia tradicionais, marcadas pela ideologia individualista que faz parte do mundo ocidental. Está claro que a fenomenologia serviu de suporte para o delineamento dessa teoria uma vez que a autora faz uso de tal linha, mais precisamente a fenomenologia de Merleau-Ponty.

Fundamentos para uma psicopatologia crítica:

1. A psicopatologia crítica será compreendida de forma não dicotomizada, mundana.

O que se busca é compreender a doença mental de forma mais ampla, que transcenda o dualismo tradicional. Essa proposta tem como base o conceito de homem mundano. Com isso Merleau-Ponty rompe definitivamente com a dicotomia homem/mulher; indivíduo/sociedade; real/imaginário. Assim, a vida do homem se encontra envolvida no mundo sensível, na história e na cultura.

2. A psicopatologia crítica será necessariamente não individualista, priorizando uma compreensão cultural e histórica do fenômeno psicopatológico, sem perder de vista sua compreensão também biológica. A idéia é redimensionar ao contexto social, sem esquecer a parte biológica, é claro, mas considerando aspectos como a distribuição de bens, por exemplo. Trata-se de usar uma lente cultural para compreender a experiência psicopatológica em sua complexidade histórica e ideológica da doença mental, rompendo radicalmente com os modelos mais conhecidos de psicopatologia que atribuem a origem e responsabilidade da doença mental ao indivíduo.

3. A psicopatologia crítica não pretende uma neutralidade científica. Essa neutralidade, ancorada no biologicismo, só é conseguida pelo tradicional porque o sofrimento psíquico é visto individualmente, com tom asséptico e por isso o profissional se coloca em uma posição neutra. O que se pretende então é o contrário, onde cuja leitura do quadro seja também social, cultural, ideológica embora sem esquecer o biológico, mas agora não somente ele importa.

4. A psicopatologia crítica busca a etiologia da enfermidade mental, não se restringindo à sintomatologia. Não queremos dizer que o sintoma não seja importante, mas é entendido apenas como uma linguagem. Trata-se de uma compreensão do fenômeno psicopatológico que transcende a sintomatologia. Eles são as expressões do Pathos, mas o que se busca é uma escuta múltipla, já que a extinção do sintoma não significa cura. O que se retende é buscar a origem dos fenômenos; ou seja, compreender o que determina a experiência psicopatológica para então poder tratá-la. A etiologia é parte fundamental da psicopatologia crítica através de suas três dimensões: endógena, cultural e situacional. Assim, nenhuma patologia existirá a partir de uma dessas dimensões, mas sim, a partir do entrelaçamento delas através de múltiplos contornos. Com isso se evita uma visão dicotomizada do sujeito. Não busca a causa pela causa, mas resgata pelo entendimento mínimo dessa etiologia como múltiplos contornos, onde o homem não separa as dimensões, mas sim constitui as dimensões e constituída por ela; pois o mundo e o homem se constituem entre si, numa dialética onde não cabe a síntese, somente um continuo de teses e antíteses.

5. A psicopatologia crítica compreende toda experiência psicopatológica como uma experiência de despotencialização, sem confundir sofrimento com psicopatologia. Essa despotencialização faz o sujeito se sentir sem forças para agir. O perigo está em tratar o sofrimento psíquico como doença. O luto e a ansiedade são naturais em um processo de luto, por exemplo.

6. A psicopatologia crítica é desideologizadora. A partir do momento que temos uma doença mental produzida culturalmente, também a partir de processos ideológicos, a psicopatologia, enquanto o lugar de estudo assim deve ser. Ela buscará a compreensão ideológica do doente mental dentro da estrutura sócio-histórica em que este vive, se relaciona, trabalha e adoece. Perguntará qual a função da doença neste contexto ou em que medida existe um grupo específico da sociedade que tem interesse em que ela exista.